Tudo ia bem. Pelo menos parecia, apesar das batalhas diárias para viver e das guerras ideológicas que nos cercavam o tempo todo.
Pelo menos não havia guerra por aqui (de verdade, aquelas com mísseis e soldados) e tanques e balas.
Liberdade de trabalhar, para os que tinham trabalho.
Liberdade de buscar, para os que não o tinham.
De ônibus, de carro, de bicicleta, a pé.
Aí veio a bomba em forma de decreto.
Todos em casa! O inimigo é desconhecido.
O negócio é terrível. Temos que nos proteger.
Alguns dias,
Uma semana,
Um mês,
Quatro meses,
Quase cinco…
O inimigo agora é um pouco conhecido, mas meio folclórico.
Tem várias versões do mesmo enredo.
Tem gente que não acredita ainda, apesar das evidências.
Mas tem gente que jura que viu.
Tem os que já foram abatidos e os que quase foram.
É o bicho de sete cabeças?
É a mula sem cabeça?
É o bicho papão?
É o satanás?
Não! Não é nada disso.
É a Morte mesmo!
É a Morte que decidiu sair sorrateiramente de seu esconderijo
Pra vir buscar, mais cedo do que tarde,
Pessoas como nós, como qualquer um de nós.
Um pouco mais cedo.
Só porque as coisas pareciam bem.
Só porque pareciam.
Só pra nos dar um choque de grandeza.
Só pra nos mostrar que
Somos tão jovens,
Tão f r á g e i s,
tãaao pequenos
e
TÃAAO SOBERBOS