-Mariana, vamos dormir?
-Paizinho, deixa eu ficar só mais um pouquinho.
-Não dá meu bem. Hoje não dá, porque a lama vem aí. Vou apagar a luz pra você não sentir nada. Essa lama já era esperada. Até o poeta já falou: “quantas lágrimas sem berro”… Fecha os olhos Mariana porque a lama não espera. As paredes vão rachar e o barro vai descer. E essa lama vai rolar por muito tempo. Por muitos quilômetros, por muitos rios. Vai chegar até o mar. O Espírito Santo que nos lave. Tudo vai ficar cinza. O verde, o azul, as escamas, as penas, as árvores, a água. Tudo pintado de cinza. Um barro cinza, uma vida cinza. Fecha os olhos Mariana. Fecha os teus olhos agora, porque lá fora muita gente já fechou.